12h23 - HORA DO ALMOÇO
Aí então ela me disse: desculpe, querido, mas não está dando mais. O dinheiro do banco já terminou. Seu seguro desemprego também. Desculpe, querido, eu vou voltar para a casa da minha mãe. Lá vai ser melhor. Pelo menos eu tenho o que comer, eu posso trabalhar com o meu pai na marcenaria. Você me entende, não é? Eu sei que você faz tudo por mim, sei que você vai entender isso. A vida não está fácil. Mas logo você vai arrumar um emprego e eu juro que volto, juro por tudo que volto, meu amor. Eu te amo.
16h - HORA DO LANCHE DA TARDE
Eu estava na minha oitava entrevista de emprego. Me lembro que nas três primeiras eu estava bastante confiante. Nas três outras eu estava sentindo que algo estava a meu favor. Na última que fiz, tinha certeza que não ia conseguir. E eu estava na minha oitava entrevista de emprego: auxiliar de almoxarifado, arquivo morto. Eu já fui gerente, já fui administrador, já fui muita coisa. E agora eu estava concorrendo ao cargo de auxiliar do arquivo morto do almoxarifado. Na sala de espera, cinco jovens, pelo menos dez anos mais novos que eu, de camisa, banho tomado, cabelos penteados. Eu tinha certeza que não havia a menor chance. Passamos por tempos difíceis, disseram os sete outros entrevistadores. Eu estava morrendo de fome e meu nome foi chamado. Cinco minutos depois o entrevistador me disse: passamos por tempos difíceis, mas vamos analisar muito bem o seu currículo e entramos em contato, tudo bem? Um abração, tchau tchau.
20h - HORA DA JANTA
Enquanto ela arrumava as malas para voltar à cidade dos pais, eu circulava pela casa pensando em quê vender para passar os próximos dias. Sentei no sofá e ela sentou do meu lado. Falei: acho que vai ser a televisão agora. E ligamos o aparelho. Estava passando um filme. Assistimos, em trinta minutos ela dormia no meu ombro direito. Sinopse: um jovem casal passa por muitos problemas e dificuldades. Conseguem passar por todas as barreiras da vida. O homem se torna um empresário de sucesso. O filme termina com ele fazendo uma entrevista de emprego e contratando um rapaz jovem, aparentando uns vinte e poucos anos, de banho tomado e cabelos penteados. Ela acordou do meu ombro e me disse: que fome, querido.
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